sexta-feira, 9 de maio de 2008

Chiu!

A liberdade apoderava-se da sua mão.
A rapariga suada e anafada tinha na mão esquerda um pincel fino, mas alongado. Cheio de tinta vermelha.
Ela dançava nas cores. Dançava no movimento; na alegria e no sentimento.
Ela pintava com entusiasmo de viver.
Misturava cores.
Não numa tela branca e vazia de amor. Mas sim, numa parede branca, e repleta de felicidade.
A sala era grande. Vazia.
E a rapariga pintava uma das quatro paredes limpas dessa divisão. Pintava.
Escrevia. Reflectia.
Era ali que ela sentia o sentido da vida.
Pois era livre.
Podia conjugar amarelo com verde, pois ninguém iria saber. (chiu!)
Podia fazer desenhos abstractos, e podia também, se enganar e pintar de fora das margens, pois ninguém iria saber. (chiu!)
Ela rodopiava e só depois pintava.
Ela não pensava antes de cobrir a parede anteriormente sem cor.
Ela pintava, e depois?
Não sabia como o fazer.
Mas fazia-o.
E depois?
Ela não tinha jeito, mas ninguém iria saber. (chiu!)
E então?
Ela arriscava a alma naquela parede.
Sentia paz e necessitava daqueles momentos no contacto com as tintas e com a esperança de cor da parede.
A parede precisava dela.
A parede tinha esperança em ganhar vida; sentido.
E ganhava.
As tintas escorriam pela parede lisa. Mas estavam também, na sua roupa, na sua cara e na sua alma.
Ela experimentava, antes de aprender como fazer. Não queria saber.
Ninguém iria saber, pois não? Portanto: chiu!